A passagem da modernidade para a
contemporaneidade ocasionou a mudança de um modelo de sociedade. Com isso,
passamos do modelo de sociedade disciplinar para o modelo de sociedade
de controle. Onde o poder começou a ser exercido de forma aberta e
contínua. Nesse novo tipo de sociedade, não há mais espaço definido e restrito
para o exercício do poder.
A sociedade de controle é a sociedade
da informação. Ela se pauta em uma adesão voluntária. Com isso, a disciplina é
interiorizada, ou seja, hoje nós incorporamos esse poder. E essa é a forma mais
eficaz para o seu exercício, a invisível, quando ele já está incorporado na
nossa cabeça.
Os dispositivos de poder que antes ficavam
reduzidos aos espaços fechados dessas instituições, agora passam a adquirir
total fluidez, o que lhes permite atuar em todas as esferas sociais. Um dos
aspectos fundamentais na construção da passagem da sociedade disciplinar para a
de controle: há um processo de instauração da lógica do confinamento, em toda a
sociedade, sem que seja necessária a existência de muros que separem o lado de
dentro das instituições do seu exterior. Há uma vigilância contínua, concretizada
pela propagação das câmeras espalhadas por toda a parte: no comercio, bancos,
escolas e até mesmo nas ruas. Todos podem e querem espiar todos.
“Quanto mais sutilmente um poder é exercido, tanto
mais eficaz ele se torna, isso porque o indivíduo não consegue identificá-lo.”
Um fenômeno que tem chamado a atenção
de diversos estudiosos é o reality show. Pois esses programas expõem os seus
participantes a situações limites e dão margem a uma série de análises. Um bom
exemplo disso é o Big Brother. O nome Big Brother foi inspirado no livro
1984, do escritor George Orwell. Neste livro, todos os habitantes de um país fictício
são vigiados diariamente por câmeras que funcionam como olhos do governo. O
autor alerta para o perigo de estarmos a caminho de uma sociedade controlada
por câmeras. E, passados pouco mais de cinquenta anos da publicação do romance
de Orwell, o receio do totalitarismo cedeu lugar à sedução, através da invasão
de câmeras em programas televisivos.
Uns dos aspectos a serem considerados
no Big Brother são os valores implícitos no programa. Podem-se perceber estes
valores através da sua estrutura e funcionamento, tais como: confinamento,
vigilância, exclusão, fama, dinheiro, esforço, sorte, culto do herói, negação
do sofrimento psicossocial, cada um por si e Deus por todos.
Com isso, podemos perceber que saímos do horror da vigilância, para imergirmos na contemplação em tempo integral de um grupo de indivíduos exibicionistas confinados em um espaço marcado por câmeras e microfones. Percebemos, ainda, que o controle, na sociedade contemporânea, é visto como uma forma de glamour pela indústria cultural.
Com isso, podemos perceber que saímos do horror da vigilância, para imergirmos na contemplação em tempo integral de um grupo de indivíduos exibicionistas confinados em um espaço marcado por câmeras e microfones. Percebemos, ainda, que o controle, na sociedade contemporânea, é visto como uma forma de glamour pela indústria cultural.
A estratégia atual é construir subjetividades,
de forma que estas se enquadrem no modo de vida oferecido pela sociedade, pois
de acordo com Foucault, o poder moderno é exercido na produção e na repressão.
O controle e o vigiar (que antes eram
temidos) e também o que era protegido (a privacidade e a intimidade) tornaram-se
objetos de fascínio. Isto é evidenciado no primeiro imperativo para participar
do show de realidade Big Brother - que é a imposição da restrição do privado. A
proposta do Big Brother é a de transformar a privacidade em espetáculo. Troca-se
desta maneira, a privacidade pela fama.
A
sociedade contemporânea é descrita por Debord (1994), como a sociedade do
espetáculo, que substitui o lema “Penso logo existo”, por outro ditado: “sou
visto, logo existo” (Quinet, 2002). Ainda segundo este autor, a sociedade é
dominada pelo olhar, que vai desde a proliferação dos programas televisivos e exibicionismos
explícitos, até à difusão epidêmica da vigilância, que multiplicam as câmeras
encontradas a cada passo do indivíduo. Vive-se hoje, numa sociedade que tem
como espetáculo, a disciplina e controle. O olho que vigia e pune, é o mesmo
que possibilita a fama.
“Sorria, você está sendo
filmado (e é para a sua segurança).”
Esta sociedade impõe uma existência
vinculada para a visibilidade, e, consequentemente, à celebridade, mas por
outro lado, amplia cada vez mais a vigilância e o controle sobre cada indivíduo.
Ao utilizar esta estrutura subjetiva, multiplica os seus dispositivos de
vigilância eletrônica e transforma-os em objetos vistos e controláveis.
A visibilidade total que um cidadão
é submetido hoje em pode ser uma armadilha. No entanto, convém lembrar que
somos nós os produtores e produtos desta sociedade que criamos. As instituições não são as fontes, são os
mecanismos do poder. E nossa sociedade passa por uma crise, nos utilizamos da
coisa já pregada por George Orwell. As instituições não conseguem desenvolver
seu poder como antes, em que cada escola, prisão, manicômio, entre outros tinha
seu meio de vigilância. Todos nós estamos sendo observados pelo Grande Irmão.
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