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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Numa rolagem de tela de menos de trinta segundos, as opções mais variadas são oferecidas: o clipe do novo filme dos Simpsons, a participação de ontem de Sandy e Júnior no Criança Esperança, o Tira-teima daquele gol do Liverpool no Campeonato europeu; tudo isso divindo o mesmo espaço com as cenas da bebedeira de ontem a noite numa festinha entre adolescentes e imagens das peripécias de um gracioso bebê anônimo. Na dúvida entre o bebê gracioso e a Sandy, fico com a primeira opção. Uma olhada breve no filme, continuo ouvindo o áudio e migro rapidamente para as três janelas adjacentes: numa delas um companheiro da graduação me convida para comer uma tapioca logo mais, na segunda consulto informações da Universidade de Brasília sobre "convergência de mídias", na terceira visualizo este texto em processo de preparação, e por fim retorno ao bebê que lambusado de comida já desceu de sua cadeirinha e agora dança e faz estripulias pelo chão, pulo para a Sandy mas desisto (tá, já gostei da Sandy, admito), nos vídeos relacionados aparece"Brasil - Mostra a tua cara": uma coletânea de imagens do país com a música ao fundo, no final da exibição constato que trata-se de um trabalho audiovisual de secundaristas. Volto à outra janela com um clique, confirmo a tapioca. Respiro: reflito sobre como as possibilidades da Internet me permitem ter uma experiência com aquelas imagens e sons de maneira tão diversa da que meus pais e avós tiveram. Em sua obra "Teoria da cultura de Massa", Marshall McLuhan retorna ao advento do livro impresso e demonstra como o aparecimento de uma nova mídia mudou definitivamente os processos educacionais e transformou a maneira de encarar e processar o conhecimento. No capítulo "Visão, som e Fúria", McLuhan fala sobre a profusão de novas mídias durante o século XX, e como estas mudaram mais vez a relação do homem com o conhecimento. Para Luhan, o cinema e a fotografia mecanizaram definitivamente todas as facetas da manifestação humana, porém romperam com o processo contínuo de individualização desencadeado pelo aparecimento do livro impresso. A partir do avanço, no século XX, das novas mídias audiovisuais, o pensamento coletivo globalizado e a cultura de massa conquistaram seu papel definitivo na sociedade ocidental. A partir dos últimos vinte anos do século XX até esse começo do século XXI, a humanidade têm experimentado o aparecimento frenético de novas mídias e novas maneiras de difundir a informação. Luhan pondera sobre esse fenômeno de forma otimista e com poucos preconceitos: citando Platão (que em uma de suas obras previu que a substituição da cultura oral pela escrita seria danosa) o autor demonstra que o surgimento de novas formas pode abrir um leque novo e interessante de maneiras eficientes de difundir a informação, apesar do tradicionalismo que a cultura livresca nos impõe. Não arrisco dizer que o advento da Internet e todas as ferramentas e facilidades por ela proporcionadas constituiu na maior invenção midiática dos últimos 50 anos. O site YouTube, além de ter virado febre em todo o mundo, salta aos nossos olhos como ferramenta de profusão democrática, rápida e nova de conteúdo audiovisual.

"Há muito nos acostumamos à noção de que as crenças de uma pessoa propiciam-lhe forma e cor à existência. Elas fornecem molduras às janelas, através das quais se visualiza a existência. Estamos menos acostumados à noção de que as formas de uma ambiência tecnológica constituem também janelãs-idéias. Cada forma (dispositivo ou metrópole), cada situacão planejada e realizada pela inteligência factiva do homem, é uma janela que revela ou deforma a realidade." (McLUHAN, Marshall. Excerto de “Visão, som e fúria”. in Teoria da cultura de massa.Rio de Janeiro, Ed. Saga)

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